quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Afeganistão ameaça expulsar jornalistas que noticiarem violência

19/08/2009

LYNNE O'DONNELL
da France Presse, em Cabul

O governo afegão ameaçou nesta quarta-feira expulsar jornalistas estrangeiros e fechar os meios de comunicação locais que não acatarem seu pedido para não noticiarem episódios de violência que, eventualmente, ocorram nesta quinta-feira (20), quando o país realiza eleições presidencial e provinciais. Serão as primeiras sob responsabilidade exclusiva das autoridades afegãs --as de 2005 e 2006 foram administradas por órgãos internacionais.

Esta ameaça, no momento em que os talebans intensificam os seus ataques, foi feita apesar de uma série de críticas denunciando a interdição de citar estas violências no dia da votação como tentativa de censura.

Durante toda a terça e quarta-feiras, dezenas de jornalistas afegãos e estrangeiros correram para os locais dos ataques assumidos pelos talebans em Cabul. Os policiais, muitas vezes, os expulsaram violentamente, exibindo armas, e tentaram impedi-los a tirar fotos ou filmar.

O banimento das notícias de violência, tornada pública nesta terça-feira (18) em comunicado, foi decretada pelo Conselho Nacional de Segurança, que reúne os principais organismos para segurança e cujo objetivo é preservar os interesses do país, afirmou o porta-voz do Ministério dos Assuntos Estrangeiros, Ahmad Zahir Faqiri, em entrevista à agência France Presse.

Esta é a primeira vez que o governo afegão impõe uma interdição deste tipo ao conjunto das mídias desde à volta dos representantes da comunidade internacional ao país no fim de 2001, após a queda do regime dos talebans.

Segundo Faqiri, as mídias são livres para cobrir as eleições presidencial e provinciais, mas qualquer informação de violência ou ataques é proibida. "Todas as mídias devem respeitar esta decisão", acrescentou. "E, se a interdição não foi respeitada, as mídias locais serão fechadas e os jornalistas estrangeiros, expulsos", afirmou.

"Em todo país democrático há situações extraordinárias que levam o governo a tomar decisões para preservar os interesses nacionais e a segurança dos cidadãos", disse.

O comunicado do governo ordenava às mídias que não difundissem informações de atos de violência das 6h às 20h desta quinta-feira (das 21h30 de quarta às 12h30 desta quinta-feira, em Brasília), para evitar que o povo deixe de ir votar por medo.

Repercussão

Organismos criticaram a iniciativa, entre eles a Associação Independente de Jornalistas do Afeganistão (Aija, na sigla em inglês) e a ONG Human Rights Watch (HRW). Em nota, até a Embaixada dos Estados Unidos em Cabul criticou a ação, afirmando que a credibilidade das eleições "está ligada a uma cobertura pela mídia".

Esta tentativa trai a determinação do governo afegão contra os ataques dos talebans que monopolizam a atenção da imprensa, relegando a segunda plano a eleição. A violência é a arma de escola para os rebeldes na guerra da comunicação, corolário de uma guerra real, que eles livram ao governo afegão e a seus aliados internacionais há oito anos.

FONTE: www.folha.uol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário