quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Milhares de italianos protestam contra medidas de Berlusconi sobre mídia

03/10/2009 - 19h59
da Folha Online

Milhares de italianos foram às ruas da capital Roma neste sábado em um protesto convocado pela Federação da Imprensa (FNSI, na sigla em italiano) e a esquerda italiana para defender a liberdade de imprensa e protestar contra os ataques do primeiro-ministro Silvio Berlusconi à imprensa para controlar as notícias sobre um escândalo sexual relacionado a prostitutas de luxo que participaram de festas em sua mansão.

Os organizadores dizem que 300 mil pessoas participaram do protesto, mas a polícia de Roma coloca o número em 60 mil.

Reunidos na Piazza del Popolo, no centro da capital italiana, os manifestantes exibiam cartazes com lemas como "Berlusconi faz mal à saúde" e "Todos somos canalhas", uma referência à forma com que o chefe de governo italiano chamou alguns jornalistas da RAI.

Berlusconi, dono de um império de mídia na Itália, classificou a manifestação de "farsa absoluta" e disse que "a liberdade é muito maior na Itália do que em qualquer outro país ocidental".

A concentração, que começou às 15h30 (10h30 no horário de Brasília) na Praça do Povo da capital italiana, exige, entre outras demandas, a revogação de uma lei que garante a imunidade dos quatro maiores cargos do Estado e recentemente interrompeu os processos contra Berlusconi.

Nos protestos deste sábado estavam representantes políticos, das áreas cultural e sindical italiana. Entre estes, o escritor napolitano Roberto Saviano e o líder da oposição do partido Itália dos Valores (IDV), o ex-magistrado Antonio di Pietro.

Nos últimos dias, Pietro intensificou os ataques contra Berlusconi pela anistia fiscal para capitais estrangeiros --que a oposição considera favorável à máfia.

Protegido entre a multidão por causa das ameaças que tem recebido justamente da máfia, Saviano foi um dos mais aplaudidos pelos manifestantes, que transformaram o ato organizado pela FNSI em uma festa com direito a música e demonstrações de oposição popular ao atual chefe do Executivo.

"Queremos de volta a liberdade que garante serenidade para poder trabalhar sem esperar coações", disse o escritor. "Estou feliz que sejamos tantos, porque muitos jornalistas morreram nos últimos anos sonhando com uma democracia como a europeia ou a anglo-saxã", acrescentou.

Censura

Berlusconi aprovou multas que somam cerca de US$ 5,8 milhões contra dois jornais de esquerda --"La Repubblica" e "L'Unita"-- por suas coberturas do escândalo envolvendo o primeiro-ministro em maio. Ele está processando ainda jornais estrangeiros acerca do escândalo.
Dono de três das sete emissoras de sinais abertos da Itália, ele rebateu as acusações de um conflito de interesse entre seu império de mídia e sua posição política desde que entrou para a vida pública há 15 anos.

Mas os críticos afirmam que desde seu retorno ao poder no ano passado pela terceira vez ele tem ficado cada vez menos paciente com a vigilância da imprensa e procurou silenciar seus críticos.
Como primeiro-ministro ele ainda exerce considerável influência sobre a emissora estatal RAI --apesar de um dos três canais da RAI ser tradicionalmente próximo a centro-direita. Ele e sua família controlam uma revista de notícias semanal, um jornal e a maior editora da Itália.

Os protestos ocorrem dois dias depois de Patrizia D'Addario, a prostituta de luxo italiana que é pivô dos últimos escândalos envolvendo Berlusconi, dizer em entrevista que o político sabia que ela era prostituta, quando passou a noite com ela.

Em meio ao escândalo, Berlusconi já negou ter pago por sexo e disse pensar que Patrizia era conhecida de um de seus convidados. uma mulher envolvida no escândalo com Berlusconi afirmar na televisão que ele sabia que ela era uma acompanhante.

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