quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Livro nos EUA revive crise das charges de Maomé

03/10/2009

PAULA ADAMO IDOETA
da Folha de S. Paulo

O livro de uma dinamarquesa radicada nos EUA está revivendo a polêmica das charges que retratavam o profeta Maomé, publicadas há quatro anos no jornal dinamarquês "Jyllands-Posten" e estopim de protestos e debates sobre liberdade de expressão por todo o mundo.

"The Cartoons that Shook the World" será lançado neste mês, mas sem as 12 polêmicas charges veiculadas na imprensa dinamarquesa. A editora do livro, Yale University Press, decidiu não reimprimir os desenhos com medo de incitar mais violência. "Entre [publicar os cartuns] e ter sangue nas mãos, não tive dúvidas", disse ao "New York Times" o diretor da Yale Press, John Donatich.

À Folha Jytte Klausen, autora do livro, se disse "muito insatisfeita" com a decisão. "Não sou ativista, e o propósito dos desenhos era mostrar como muçulmanos e não muçulmanos os interpretaram", afirmou, argumentando que não queria mostrar os cartuns por si só, mas a página do jornal em que foram publicados.
Donatich alegou razões de segurança, e não censura, após consultar diplomatas e especialistas em islã e terrorismo.

Cinco meses após sua publicação, em 30 de setembro de 2005, as gravuras desencadearam protestos no mundo muçulmano, boicotes a produtos dinamarqueses e até queixas sobre a escolha do ex-premiê Anders Fogh Rasmussen à chefia da Otan, a aliança militar ocidental. Kurt Westergaard, autor de uma das charges -que mostrava Maomé com um turbante em forma de bomba-, foi ameaçado de morte.

Jytte Klausen, professora de política na Universidade Brandeis (EUA), avalia em seu livro que a reação às charges foi mais um conflito político do que um desentendimento cultural, orquestrado para influenciar eleições tanto na Dinamarca como no mundo muçulmano. Para ela, extremistas usaram os desenhos para desestabilizar governos -caso do Taleban, que, com as imagens, reforçou seu argumento de que o Ocidente desrespeita o islã.

As charges serviram "para mobilizar [pessoas] em meio a tensões prévias entre Ocidente e islã", disse ela. "A maioria das pessoas nem sequer chegou a ver os desenhos, só a cobertura da mídia e as reações extremistas. Mais um motivo pelo qual eu queria mostrar as gravuras."

O chargista Kurt Westergaard também discorda da decisão da Yale. "Eles deveriam publicá-las. É um erro no longo prazo. Mas entendo seu medo", disse à Folha. Westergaard afirma que se conformou em passar o resto da vida sob escolta policial para se proteger de extremistas. "Nosso Estado deu tudo aos imigrantes. O que exigimos em troca é que aceitem nossa tradição democrática e de liberdade de expressão."

FONTE: www.folha.uol.com.br

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