segunda-feira, 20 de julho de 2009

Hondurenhos enfrentam vazio de informação sobre crise no país

30/06/2009
da BBC Brasil


Os moradores de Tegucigalpa, a capital de Honduras, enfrentam um vazio de informações desde o início dos eventos que resultaram na deposição do presidente Manuel Zelaya no domingo. Ele foi derrubado pelo Exército, com apoio do Congresso e da Suprema Corte, e enviado à Costa Rica. O golpe aconteceu no dia em que Zelaya pretendia realizar uma consulta popular sobre uma nova Constituição, que havia sido considerada ilegal pela Justiça.
Os sinais das emissoras estatais de rádio e televisão, assim como os de outras cadeias internacionais privadas, foram suspensos temporariamente. Também há denúncias de agressões contra jornalistas e instalações físicas de empresas de comunicação.
"Estamos desinformados e cheios de rumores", disse à BBC Mundo uma diretora da ONG Christian Aid em Tegucigalpa, Maritza Henriquez.
Na segunda-feira, um dia após a queda do presidente, a pouca informação que os hondurenhos tinham sobre o que estava acontecendo no país circulava de boca a boca.
"Como cortaram até a luz, procuramos lugares onde podemos encontrar a informação sobre o que está acontecendo. Algumas pessoas ligam os carros para poder escutar algumas notícias. No domingo, ficamos o dia todo sem energia", disse Henriquez.
O jornalista hondurenho Manuel Torres disse à BBC Mundo que há uma forte censura nos meios de comunicação.
"Se você sintonizar uma das emissoras de rádio de Honduras, ouvirá que a informação é mínima sobre os eventos. Quase toda a grande imprensa do país se dedicou a entrevistar os novos funcionários do governo", disse Torres.
"A tendência dos meios de comunicação tem sido impor o critério de que o que ocorreu no domingo não foi um golpe de Estado, mas uma 'troca de administração'", afirmou o jornalista.
O rádio na mira
A Radio Globo Honduras denunciou, em seu website, que um comando militar invadiu as instalações da rádio e tirou o sinal da emissora do ar nas horas que seguiram à deposição de Zelaya no domingo.
"Depois de negociações com os militares, a rádio retomou as operações, mas sob uma série de condições que limitam a liberdade de expressão no país", disse o gerente-proprietário da emissora.
A organização Repórteres sem Fronteiras informou que quatro horas depois da queda de Zelaya, cerca de 25 militares invadiram a emissora Radio Progreso, pertencente a Associação Latino-Americana de Educação Radiofônica, e localizada nos arredores da capital.
"A Radio Progreso, agora na mira dos militares, ainda não decidiu quando retomará sua programação", afirma a organização.
A Radio Globo Honduras informou, durante sua cobertura, que 95% dos meios de comunicação nacionais deixaram de emitir qualquer tipo de informação sobre a deposição do presidente.
Sinal
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) emitiu um comunicado manifestando a preocupação da organização com a crise política e a "limitação da liberdade de informação" em Honduras.
O presidente da SIP, Enrique Santos Calderón se referiu a "suspensão temporária de sinais de rádio e televisão estatais, assim como de outras cadeias internacionais e privadas, e vários eventos e agressões registrados contra jornalistas e instalações físicas de alguns meios de comunicação".
Segundo a organização, depois da destituição de Zelaya e da imposição do toque de recolher por 48 horas, a Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel) proibiu que as empresas de canais por cabo emitissem seus sinais.
"Com esta medida, foram afetadas as recepções das transmissões da CNN Español, Telesur e Cubavisión Internacional. Antes disso, soubemos que a rádio e a televisão estatal foram suspensas durante várias horas", diz o comunicado.
A SIP destacou ainda que, segundo os meios de comunicação hondurenhos, jornalistas e fotógrafos teriam sido "agredidos e insultados" por grupos contrários à deposição de Zelaya.
"Em San Pedro Sula, o jornal 'Tiempo' informou que militares visitaram suas instalações e as do Canal 11 e ordenaram o fim das transmissões com declarações de funcionários do governo deposto", afirmou a organização em comunicado.
Nenhum país reconheceu o novo governo hondurenho, que tomou posse no domingo, horas depois da deposição de Zelaya.

FONTE: http://www.folha.uol.com.br

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