segunda-feira, 20 de julho de 2009

Censura faz parte da rotina no Irã, diz jovem envolvido em protestos

17/06/2009
MARCIA SOMAN MORAES
da Folha Online
Nos últimos dois dias, o governo do presidente reeleito, Mahmoud Ahmadinejad, fechou o cerco contra a imprensa, expulsando os jornalistas estrangeiros e ameaçando imprensa on-line e blogs que noticiarem a crise política no país. A medida não surpreendeu o iraniano A.H.Z., 25, para quem "o governo não quer que o povo saiba a verdade". A identidade do iraniano foi preservada por questões de segurança.
"São medidas amplas, mas não novas. A rotina iraniana é de censura", conta A.H.Z., estudante universitário da cidade de Shiraz, na Província de Fars.
Apesar de não ter votado no pleito de 12 de junho, A.H.Z. se define como opositor e decidiu ir às ruas por não acreditar que Ahmadinejad tenha ganho 63% dos votos contra apenas 34% de Mousavi --já que as pesquisas de intenção de voto indicavam um cenário acirrado.
O resultado, que ainda deve ser ratificado pelo Conselho dos Guardiães, causou uma onda de protestos inédita desde a Revolução Islâmica de 1979.
O universitário relatou que as forças de segurança do governo reprimem com violência os protestos. Ele diz ter medo de voltar às ruas depois de ter sido ferido nas costas com um cassetete na manifestação de domingo passado (14). "Eles [agentes] não pediram para que parássemos, não deram nenhum tipo de alerta. De repente, começaram a atacar todo mundo com cassetetes", conta A.H.Z.. "Todo mundo começou a correr em busca de abrigo. Alguém abriu a porta e eu entrei em uma casa."
A.H.Z. ficou cerca de 20 minutos na casa, depois seguiu para o hospital onde foi medicado para o ferimento nas costas. O episódio fez com que ele e amigos evitassem participar dos protestos convocados diariamente pela oposição. O temor, explica, é ainda maior desde que sete pessoas morreram em confrontos entre manifestantes oposicionistas e milícia ligada à Guarda Revolucionária na segunda-feira passada (15).
Mídia
Ele conta que a mídia estatal ignorou por quatro dias os protestos em massa da oposição, liderados pelo candidato reformista derrotado, Mir Hossein Mousavi, contra suposta fraude na reeleição de Ahmadinejad. "Quando mostraram [os protestos], eram imagens dos danos causados em bancos, carros, como se os opositores fossem criminosos."
Ele duvida que as manifestações possam alterar o resultado já divulgado. "Podem contar mais de dez vezes os votos", disse, em referência à proposta apaziguadora do Conselho de fazer a recontagem parcial dos votos. "Ahmadinejad tem grande apoio do aiatolá [líder supremo do Irã] e do próprio Conselho", diz. "Nada vai mudar. Ahmadinejad será o presidente do Irã mesmo sem ter conquistado todos os votos", diz.

FONTE: http://www.folha.uol.com.br

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