segunda-feira, 30 de março de 2009

A polêmica dos municipais cariocas

Quinta-Feira, 05 de Março de 2009
Jandira Feghali, secretária de Cultura do Rio, agita classe teatral ao criar comissão para definir peças que ocuparão cada espaço
Roberta Pennafort
A criação de uma comissão julgadora para escolher peças a serem encenadas nos teatros da Prefeitura do Rio vem provocando grande discussão entre a classe artística e a nova secretária municipal de Cultura do Rio, Jandira Feghali. De um lado, os artistas bradam que a iniciativa vai burocratizar o processo de produção. E mais: ideologizá-lo, criando um ambiente propício à censura. Já Jandira sustenta que se trata de uma forma de democratizar o acesso dos proponentes aos teatros, além de permitir que a secretaria tenha uma visão global da rede, o que permitirá sua ocupação de modo mais eficiente.Até então, quem quisesse montar uma peça num dos sete teatros da rede municipal entregava seu projeto ao diretor de um deles e cruzava os dedos para ser aceito. Com as mudanças anunciadas pela secretária, tudo mudou: as propostas têm de seguir diretamente à Secretaria, que criou a comissão para analisá-las. O diretor do teatro, agora chamado de diretor-residente, com mandato de apenas um ano, terá voz, mas será apenas uma das vozes.Nas próximas semanas, a Secretaria espera pôr na rua os editais de seleção dos diretores-residentes. A discussão começou bem antes, no início da gestão de Jandira. A secretária deixou artistas em polvorosa ao dizer que os teatros eram tratados como "feudos", em que cada diretor fazia o que bem quisesse. Agora, ela tem de lidar com as acusações de "dirigismo" de parte da classe, que desconfia que a comissão poderá usar critérios ideológicos na hora de escolher as peças que serão apresentadas.Jandira já se reuniu com representantes da classe, contemporizou e explicou que quem errou foi a gestão anterior, que deixou os teatros ao deus-dará, abrindo brechas para "decisões entre amigos", expressão usada pelo subsecretário de Gestão, Randal Farah. Segundo Jandira, valia o "cada um por si", o que, para ela, não pode continuar. Apesar dos panos quentes, o temor continua. "A impressão que eu tenho é que se quer complicar o processo, burocratizar, centralizar. Ninguém vai descobrir o ovo de colombo", diz a atriz Soraya Ravenle, que já passou com suas peças por vários dos palcos da rede municipal. A "complicação" a que Soraya se refere é justamente a criação da comissão, formada por Ana Luisa Lima, coordenadora da rede de teatros; Claudia Zarvos, gerente de artes visuais; Celina Sodré, de artes cênicas; Samuel Araújo, de música, e mais dois consultores: Antonio Pedro (ator e diretor) e Carmen Luz (dança). Eles vão definir, junto com os diretores-residentes (ou companhias-residentes, outra possibilidade aberta pela secretaria), quais espetáculos serão financiados e, enfim, encenados. Escolhido em concurso público, o diretor ou companhia residente poderá montar suas próprias peças ou de convidados, mas, para tanto, precisará chegar a um acordo com a comissão. É o fim da era em que os projetos sequer passavam pela Secretaria. A chegada dos novos gestores deve ocorrer a partir de maio - até lá, as propostas deverão ser mandadas à prefeitura para análise, e o que já estava programado segue em cartaz.Domingos Oliveira desqualifica a comissão: "Eu tenho mais condições de falar de teatro do que qualquer comissão da prefeitura", manifesta-se o ex-diretor do Teatro do Planetário, e com 55 anos de coxia em coxia, tendo lotado plateias com Todo Mundo tem Problemas Sexuais, Amores e Separações. "O que eu vejo é a Prefeitura querer mandar em coisas sobre as quais não entende. Se me pagarem para construir um edifício, eu construo, mas ele cai depois." O advento da comissão foi criticada também com veemência pela crítica de teatro do jornal O Globo e renomada tradutora de textos teatrais Barbara Heliodora. Ela publicou um artigo em que diz acreditar que as novas medidas visem ao "controle ideológico de toda atividade artística e cultural", tal qual na União Soviética e na China comunistas. "A ingerência do Estado na criação artística e em qualquer atividade cultural é fatal: seu único objetivo é alimentar o público com chavões ideológicos e cortar qualquer possibilidade de obras imaginativas e/o realmente reflexivas", escreveu. Jandira - que concorreu à Prefeitura do Rio no ano passado pelo PCdoB - rebate; acha que está sendo mal interpretada. "O que nós vamos fazer é uma seleção pública, que não é para interferir em conteúdo, nem em criação e muito menos fazer censura, que não é nosso papel", explicou. "Queremos dar oportunidade a todo mundo de apresentar seus projetos. Para garantir a diversidade, a pluralidade
FONTE: www.estadao.com.br

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