segunda-feira, 30 de março de 2009

Crítica on-line desafia repressão chinesa


Opositores acham alternativas, e a internet, antes totalmente controlada, começa a fugir do domínio estatal.



RAUL JUSTE LORES
da Folha de S.Paulo, em Pequim


Textos críticos assinados por dissidentes, vídeos vetados na TV estatal e opiniões de blogueiros estão desafiando a mais recente onda repressiva do governo chinês.
Antes completamente controlada, a internet começa a se tornar imanejável para o governo. Um site que reunia diversos opositores e que foi fechado há dois meses reapareceu utilizando um domínio americano e pode ser acessado com o auxílio de sistemas que driblam a censura chinesa.

Em campanha de controle à rede, as autoridades fecharam mais de 1.500 sites, sob a acusação de "pornografia, atentar contra a moralidade e corromper a juventude", segundo a Secretaria de Segurança. Blogueiros acusam a "limpeza" de encobrir mais uma onda de repressão a qualquer crítica no país, em meio a desemprego crescente e crise econômica.
Além de bloqueios temporários aos sites do jornal "New York Times" e da BBC, blogs e portais na internet que abrigavam textos mais críticos ao governo foram tirados da rede.
O site Bullog, que publicou a Carta 08 (manifesto subscrito por intelectuais no fim do ano passado em prol dos direitos humanos na China), foi retirado do ar no início de janeiro. Reapareceu na semana passada, utilizando um domínio nos EUA, como bullogger.com.
"Os internautas têm conquistado mais liberdade de expressão on-line, mas as coisas têm ficado duras nos últimos dias. Mais mobilização será necessária no futuro", disse à Folha o blogueiro Zhou Shuguang, 27, um dos signatários da Carta 08.
Após assinar a petição por democracia e respeito aos direitos humanos na China, ele foi visitado pela polícia. "Eles me levaram para almoçar e fizeram perguntas sobre o manifesto. Queriam saber como eu soube, porque eu assinei e o que eu achava", conta. "Não aconteceu mais nada, acho que eles fizeram a parte deles."
Outra blogueira famosa, que assina como Persian Xiaozhao, fez sucesso com o texto "Eu assinei a Carta 08 após um bom choro", em que ela falava das injustiças do país. Seu blog foi banido pelo portal que o abrigava. Mas ela já criou outro.


Cumplicidade

A conivência de grandes portais com a censura chinesa é famosa. Tanto Google quanto Yahoo fizeram acordo com o governo para retirar de seus resultados de buscas páginas "sensíveis" ao governo chinês.
A colaboração dos portais locais com o governo é ainda maior. O portal Sohu.com já retirou do ar vários blogs hospedados no site após a publicação de comentários mais críticos de seus autores. Até mesmo comentários de internautas publicados como resposta a notícias e outros textos são apagados pelos portais se fizerem críticas mais duras ao governo.
Ainda assim, a força da internet tem dobrado o governo. A TV estatal tirou do ar a cobertura de um discurso do primeiro-ministro Wen Jiabao no Reino Unido, quando um estudante lhe atirou um sapato. O vídeo circulou tanto pela China que a CCTV, maior rede do país, acabou transmitindo a sapatada que errou o alvo.


Repressão e crise


A tensão das autoridades se traduz em mais repressão. A atual crise econômica, que já fez o crescimento da economia chinesa em 2008 ser o pior em sete anos --e que pode ser menor ainda em 2009--, deve deixar 20 milhões desempregados, segundo algumas estimativas.
No ano passado, as duas Províncias separatistas chinesas foram mais controladas pelo regime. O Tibete ficou parcialmente fechado ao mundo --e turistas estrangeiros foram proibidos de pisar na região ao longo de quase quatro meses- e a imprensa internacional continua impedida de pisar na capital provincial, Lhasa.
Em Xinjiang, Província de população muçulmana no extremo oeste da China, houve recorde nas prisões justificadas por causa de "risco à segurança do Estado". Mais de 1.400 pessoas foram presas (em 2007, foram 742).
A política preventiva de repressão do governo também tem a ver com as datas comemorativas que podem ser celebradas em 2009 --os 20 anos do massacre na Praça da Paz Celestial, os 50 anos da fuga do dalai-lama do Tibete e os dez anos da proibição da seita Falun Gong.



FONTE: http://www1.folha.uol.com.br

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