quinta-feira, 27 de agosto de 2009

04/08/09

Roberto Lameirinhas

Membros de partido radical lançam bombas contra a Globovisión

Ação rápida e surpreendente, mais de 30 militantes do partido radical Unidade Popular Venezuelana (UPV), vinculado ao governo de Hugo Chávez, invadiram ontem a sede da emissora antichavista Globovisión, no Distrito Alta Florida, em Caracas, e lançaram pelo menos duas bombas de gás lacrimogêneo.

Duas pessoas - um funcionário da TV e uma mulher grávida - ficaram feridas levemente no incidente, três dias depois de o governo de Chávez ter retirado do ar 34 emissoras de rádio e apresentado à Assembleia um projeto de lei que estabelece pesadas penas de prisão para empresas ou indivíduos que divulgarem notícias que "atentem contra a segurança do Estado".

Os militantes, liderados pela ativista de movimentos sociais Lina Ron - qualificada pela oposição de uma agitadora a serviço de Chávez -, renderam os vigilantes do portão de entrada da sede da emissora ameaçando-os com revólveres e pistolas. As bombas de gás foram lançadas do pátio interno do edifício e explodiram na entrada dos estúdios, de onde se transmitia o noticiário das 13 horas.

A reportagem do Estado chegava à sede da emissora no momento do ataque. Depois de lançar as bombas, os agressores - todos usando boinas vermelhas, camisetas e bandeiras da UPV - deixaram o local de motocicleta e em alta velocidade. Policiais da Guarda Metropolitana de Caracas cercaram as vias próximas da emissora logo após o atentado, mas nenhum ativista da UPV tinha sido detido até a tarde de ontem.

Indignado, o diretor-geral da Globovisión, Alberto Federico Ravell, responsabilizou Chávez diretamente pelo atentado e exigiu punição para seus autores.

"Esse é mais um atropelo por parte desse governo, que deve ser repudiado por todos os venezuelanos", declarou Ravell a um grupo de jornalistas. "Agora, além do assédio moral e jurídico, o cerco aos meios de comunicação comprometidos com a verdadeira democracia na Venezuela estão sujeitos à agressão de bandos a serviço do governo. Não interessa ao governo que se divulguem seus atropelos, sua ineficiência, sua corrupção. Não lhe interessa a divulgação de seus laços com guerrilheiros das Farc, com o narcotráfico. Por isso querem nos calar."

Após o ataque, o ministro do Interior e Justiça, Tareck el-Aissami, condenou o atentado, que qualificou de "violento e criminoso". "Quem estiver envolvido nessa ação será posto à disposição da Justiça", afirmou. "Não aceitaremos que a violência seja o instrumento pelo qual resolveremos nossas diferenças."

O governo Chávez, que em 2007 tirou do ar a mais popular emissora, a RCTV, tem apertado o cerco contra a Globovisión, cujo fechamento é considerado iminente. Nos últimos meses, o canal recebeu multas que somam quase US$ 3 milhões. Além disso, o presidente da TV, Gustavo Zuloaga, que também é dono de uma concessionária de veículos, é réu numa ação penal na qual é acusado de esconder mercadorias para fins de especulação.

"É necessário que a comunidade internacional volte seus olhos para o que está ocorrendo com a liberdade de expressão na Venezuela", declarou ao Estado Teodoro Petkoff, diretor do jornal Tal Cual. "A violência contra a liberdade de imprensa é tao intensa que dispensa qualquer comentário."

FONTE: http://www.estadao.com.br

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