quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Censura "esconde" crise e precariedade no atletismo brasileiro

19/07/2009


JOSÉ EDUARDO MARTINS
da Folha de S.Paulo

A maior parte da delegação brasileira que vai disputar o Mundial de atletismo, entre os dias 15 e 23 de agosto, em Berlim, não teve um local adequado para se preparar neste ano.

Dos 32 classificados para o torneio, 14 treinam diariamente na deteriorada pista do estádio Ícaro de Castro Melo, no Ibirapuera, em São Paulo. Com sete anos de uso, o piso perdeu parte da superfície de borracha e causa ainda mais impacto. As más condições colocam em risco os atletas, que ficam mais sujeitos a contusões.

De acordo com alguns competidores, que não quiseram ter seus nomes identificados, a precária situação não foi divulgada antes por medo de retaliação dos administradores. O temor era uma possível proibição da entrada dos atletas no local.

Questionado, o diretor do complexo, Eduardo Anastasi, negou a coação. "Imagina, não estou fazendo qualquer tipo de censura. Não existe isso de a gente bloquear", afirmou.

"No início do ano passado, o presidente da Federação Paulista de Atletismo [José Antonio Fernandes] pediu para implantarmos um sistema para só poder entrar no estádio quem tivesse carteirinha de federado. Aí, chegaram seis atletas não identificados. Tiveram de pegar uma autorização e foram reclamar na imprensa. Fizemos isso para manter o controle", completou Anastasi.

O orçamento para a reforma, já liberado pelo governo do Estado, é de R$ 13 milhões para este ano. Em 2010, serão investidos R$ 22 milhões, mais R$ 1 milhão em 2011, quando todo o complexo deve ficar pronto.

Desentendimento entre os dirigentes da BM&F, uma das principais equipes do país, e a direção do complexo do Ibirapuera também pode vir a gerar polêmicas no futuro.

Em 2002, a BM&F e o governo do Estado acertaram acordo. A equipe deveria arcar com a reforma da pista e com a construção de um alojamento para, em contrapartida, utilizar a área. O piso foi trocado, mas não foi criado o alojamento.

"Por uma série de razões, nunca nos foi oferecido o local para construir o alojamento. Depois, nos foi apresentado um outro projeto do Estado, com custo seis vezes maior. Não foi viabilizado. O contrato ficou com a pendência", diz Sérgio Coutinho, diretor da BM&F.

Para tentar quitar a dívida, a direção do time ofereceu a verba do alojamento para uma nova reforma da pista.

"Legalmente, não se pode alterar [a verba] para a reforma da pista. A Procuradoria já deu parecer contrário a isso", disse Anastasi. "Hoje, a gente só empresta o espaço para a BM&F treinar, e isso não vai mudar."

O único ponto com que todos concordam é a necessidade da reforma na pista. "É público e notório que o piso está desgastado. O local é utilizado por cerca de 400 atletas toda semana. Isso já há seis anos. Não temos a condição ideal para um grande torneio", disse Fernandes, o presidente da federação de SP.

"Na Guatemala, por exemplo, você encontra quatro estádios de nível, sendo que o país não tem atletas bem colocados no ranking", completou ele.

FONTE: www.folha.uol.com.br



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