sexta-feira, 30 de julho de 2010

"Não vale a pena censurar cenas 'gay"

Psicólogo critica corte de cena de beijos entre dois rapazes. Associações 'gay' escrevem carta à TVI.

"Nos tempos que correm, com o acesso a informação que há através da Net e de outros meios, não faz sentido censurar-se às crianças qualquer tipo de cena, mesmo os beijos homossexuais." A explicação é dada por José Morgado, psicólogo educacional, contactado pelo DN.

Isto, reagindo ao corte de uma cena de beijos entre um casal homossexual, da série para crianças e adolescentes da TVI, Morangos com Açúcar. A cena foi gravada pelos autores da série, mas rejeitada pela direcção de programas da TVI. E ontem, um grupo de dez associações gay enviou uma carta aberta à TVI como forma de protesto pelo cancelamento da cena e a pedir explicações por este "acto de censura" e de "atentado ao princípio da igualdade previsto na Constituição".

Em causa está uma cena entre as personagens Fábio e Nuno, em que a primeira admitiu finalmente que gosta do amigo. Na cena gravada, os dois dão um pequeno beijo na boca, mas depois, antes de ir para o ar, a direcção de programas cortou essa parte.

"Não vale a pena censurar este tipo de informação porque as crianças e os adolescentes têm acesso a tudo hoje em dia e são sempre confrontados com a realidade", segundo o psicólogo, que lida diariamente com crianças. "Em matéria educacional, os pais deveriam filtrar o que os filhos assistem na televisão, mas hoje é muito difícil", diz o mesmo médico.

"O correcto - mesmo quando as crianças são mais pequenas - é agir com normalidade perante estas situações."

Daí o clínico achar "desadequado" este tipo de "censura", defendendo que "não vale a pena tapar o sol com a peneira porque basta os miúdos quererem que chegam a qualquer tipo de informação".

Indignadas, as associações gay explicam na carta que pretendem alertar para o "impacto extremamente negativo" que pode vir a ter a decisão de cortar a cena. E defendem que os dramas dos jovens da série Morangos com Açúcar (série juvenil criada em 2003) se estendam "sem discriminações à realidade de jovens lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros em Portugal".

Os signatários dizem ainda "não existir justificação para a não emissão de qualquer conteúdo que expresse a diversidade de afectos e relacionamentos que existem na sociedade". E classificam o acto como "um sinal triste de retrocesso civilizacional".

"Vivemos numa época em que estão reunidas todas as condições para o apoio e o respeito a gays e lésbicas e estamos certos de que a sociedade portuguesa está mais do que preparada para assistir às imagens desta história de amor", concluiu o documento.

Brigitte Loureiro, directora adjunta de Relações Exteriores da TVI, reagiu à carta das associações gay, em declarações ao DN. "A opinião expressa na carta merece-nos todo o respeito", segundo, defendeu, acrescentando: "Contudo, a TVI e a Plural não abdicam do seu direito, nem fogem da sua responsabilidade de serem o último decisor em relação ao conteúdo das suas emissões no pleno exercício da sua liberdade artística e editorial".

FONTE: http://dn.sapo.pt

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