sábado, 6 de março de 2010

Programadores criticam critérios da Apple para remover conteúdo erótico


25/02/2010

PAULA GIL
da Efe, em San Francisco

A Apple promete deixar de comercializar programas de conteúdo erótico para o iPhone, mas especialistas e programadores acusam a empresa de adotar critérios pouco lógicos para decidir o conteúdo a ser eliminado.

Na semana passada, a empresa começou a retirar de sua loja on-line milhares de aplicativos de conteúdo adulto, argumentando que o número de queixas recebidas, especialmente de mulheres e pais preocupados, aumentou consideravelmente.

"Chegamos a um ponto em que estávamos recebendo queixas de mulheres afirmando que o conteúdo era deteriorante demais, e de pais incomodados com o que seus filhos estavam vendo", disse Phil Schiller, vice-presidente da Apple, ao jornal "The New York Times".

Um dos campeões de protestos no iTunes foi um programa criado pela marca de bebidas Pepsi. Acusado de sexista, dava conselhos para homens seduzirem mulheres e as classificava em categorias.

Outro aplicativo que causou problemas foi o Wobble iBoobs, que permitia escolher fotos de mulheres de biquini, marcar partes de seu corpo e fazer com que elas tremessem sempre que o iPhone fosse sacudido.

Segundo algumas fontes, a Apple já teria eliminado cerca de 5 mil aplicativos, apesar de muitos deles serem meras réplicas do mesmo programa.

Contradições

No entanto, muitos usuários e parte da imprensa denunciaram que uma boa parte dos programas que estão sendo eliminados é de conteúdo bastante inocente.

Alguns aplicativos que simplesmente permitem acesso à internet também correm risco de extinção porque representam uma potencial porta de entrada para conteúdo adulto.

Entretanto, conteúdo de grandes empresas como as revistas "Playboy" e "Sports Illustrated" --com sua edição de mulheres de biquíni--, desenvolvido pelo grupo editorial "Time", segue disponível no iTunes dias depois de a Apple iniciar a limpa.

Por sua vez, aplicativos desenvolvidos por companhias pequenas ou programadores independentes não estão mais à venda.

O programa Swimsuit custa US$ 1,99 e mostra as melhores capas da revista "Sport Illustrated" com belas modelos de biquíni --conteúdo que não é mais nem menos erótico que alguns dos aplicativos que não passaram pelo crivo da Apple.

Elite

"Acho que todo programador tem direito a publicar seu trabalho, independentemente que seja bem conhecido ou não", lamentou Craig Hockenberry, que atua na criação de software e é analista de aplicativos para iPhone na rede de microblogging Twitter.

"Meu medo é que uma loja de aplicativos cheia de grandes marcas seja muito chata. A inovação tende a ocorrer entre os programadores pequenos", acrescentou.

Tentando explicar algo difícil de justificar, Phil Schiller disse ao "The New York Times" que a diferença está no fato de que "Playboy" e "Sport Illustrated" são companhias "conhecidas que previamente publicaram material em um meio que está amplamente aceito".

Também surpreendeu o momento escolhido pela Apple, que já tinha em andamento políticas contra o conteúdo para adultos no iPhone desde julho do ano passado.

Sucesso entre jovens

Alguns especialistas afirmam que a verdadeira razão por trás destas medidas de censura está no sucesso do iPod Touch e, principalmente, no lançamento em breve do iPad.

O iPod Touch faz muito sucesso entre crianças e adolescentes nos Estados Unidos, já que o reprodutor digital permite que eles joguem videogames, mas não preocupam os pais com contas altas de telefone.

Os usuários do iPod Touch são, no entanto, os perfeitos futuros usuários do iPhone, e a Apple quer evitar a todo custo preocupações com conteúdos supostamente para adultos.

Por outro lado, o iPad chegará ao mercado mês que vem e centenas de programadores de todo o mundo já estão criando aplicativos especialmente projetados para este minicomputador, ou adaptados do iPhone.

Um dos planos da Apple para o novo aparelho é comercializá-lo como ferramenta educativa, o que acaba com qualquer interesse na comercialização de conteúdo adulto no iPad.

FONTE: www.folha.uol.com.br

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