19/02/2010
Publicação teve momentos de sucesso em 2009, ao denunciar a aliança militar entre Bogotá e Washington
SÃO PAULO - A revista Cambio foi fechada. O célebre proprietário da publicação era ninguém menos do que o jornalista e prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Márquez. O fato detonou uma polêmica na Colômbia, com acusações de censura à imprensa durante a campanha eleitoral para a Presidência em 30 de maio, conforme observa artigo da agência France Press.
A decisão foi anunciada em 3 de fevereiro pelos seus proprietários, a editora colombiana El Tiempo. Os jornalistas foram informados neste dia que a revista semanal fundada em 1993 não sairia mais. Tinha ligação com a revista espanhola Cambio 16, que teve um papel preponderante na transição da ditadura para a democracia naquele país.
Apesar de circular somente na Colômbia, a revista Cambio era muito conhecida em vários países da América Latina. Tornou-se mais reconhecida ainda quando García Márquez e alguns amigos compraram parte da revista em um momento de crise, porque queriam "fazer jornalismo".
Um dos momentos altos da publicação foi quando divulgou a ligação do então presidente Ernesto Samper com as máfias das drogas colombianas.
Mas, segundo sua última editora, María Elvira Samper, cheios de dívidas, os proprietários da revista se aliaram à editora El Tiempo e García Márquez deixou a publicação. Para a editora, o fechamento da Cambio se explica em razão do "declínio mundial das revistas de atualidade e política".
Ainda segundo a France Press, a revista Cambio continuou com sua série de sucessos em 2009 ao publicar em primeira mão a negociação do acordo militar entre Bogotá e Washington que permitiu que tropas americanas passassem a controlar sete bases na Colômbia e provocou a crise diplomática com a vizinha Venezuela e demais países latino-americanos.
A revista semanal também publicou reportagem sobre escutas ilegais realizadas pelo departamento de inteligência DAS e revelou o escândalo Agro Ingreso Seguro, sobre corrupção nos contratos de subsídios rurais.
"O jornalismo e a democracia colombiana recebem um dos golpes mais duros de sua história recente", disse a editorialista María Jimena Duzán ao comentar o caso.
María Elvira Samper falou de sua "convicção profunda de que houve outras razões, além das econômicas" para o fechamento da Cambio e sugeriu que o grupo Planeta, maior acionista da editora El Tiempo, sacrificou a revista porque pretende vencer a licitação por um terceiro canal de televisão pelo qual compete com o grupo espanhol Prisa e o venezuelano Cisneros.
Mas Francesc Solé, presidente da Planeta para os países andinos, assinalou que se a revista tivesse saído de circulação há um ano "não haveria tanta polêmica", afirma. "Ao fechar, pelo contrário, não ajudamos ao governo", disse.
FONTE: http://www.estadao.com.br/
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