segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Coleções » Regime militar


Entre 1964 e 1985, o Brasil foi governado pelos militares. Durante esse período, as instituições democráticas sofreram restrições, as liberdades individuais foram limitadas e a imprensa foi censurada. Em contrapartida, a economia do país teve um crescimento inédito. Lançada em 1968, VEJA viveu e registrou durante 17 anos o cotidiano brasileiro sob o comando dos generais. Poucos meses após a estréia da revista, o Ato Institucional nº 5 fechou o Congresso, cassou o mandato de mais de meia centena de políticos e suspendeu as garantias constitucionais. VEJA foi uma das primeiras vítimas do AI-5: a edição sobre o ato que endurecia o regime foi recolhida das bancas em dezembro de 1968. Por uma década, a sigla marcaria a fase mais feroz dos 21 anos de ditadura.

Agora a coisa vai.
Frase ouvida de um militar após o AI-5 (19/12/1968)

Se de um lado o estado massacrou liberdades básicas dos cidadãos, de outro, um punhado de jovens radicais e organizações de esquerda entraram no delírio de derrubar o regime na base da luta armada. As diferentes formas de resistência ao governo fardado renderam uma série de capas históricas, como a do congresso clandestino da UNE em Ibiúna, em 1968, ainda antes do AI-5. Ali, só podiam entrar os estudantes que tivessem em mãos um exemplar de VEJA daquela semana - a revista era a "senha". De leitores, os estudantes passariam a protagonistas da revista. Ao serem descobertos e presos, estamparam a capa da semana seguinte.

(...) Os rapazes e moças enrolados em cobertores coloridos, no frio do começo da tarde de sábado passado, não pareciam os perigosos líderes estudantis do Brasil inteiro, presos durante o 30º Congresso da ex-UNE. (...)
"O congresso interrompido", 16/10/1968

Também marcaram época o seqüestro do embaixador americano por um grupo guerrilheiro em 1969 e a perseguição a Carlos Marighella, o mais destacado líder da luta armada. A morte do ex-capitão de infantaria Carlos Lamarca, que trocou a farda pela subversão, também seria destaque em 1971.

(...) Surpreendido numa armadilha, cercado por quase quarenta policiais, Marighella não se rendeu. E foi aniquilado. Nem chegou a pegar sua arma. Está enterrado em cova rasa. (...)
"Estratégia para matar o terror", 12/11/1969

Ainda no fim de 1969, com duas reportagens de capa sobre o tema, VEJA se tornou o primeiro órgão de imprensa do país a investigar de maneira abrangente e detalhada a prática de torturas nos porões do regime militar. Duas décadas depois, já finda a ditadura, a revista publicaria outra capa sobre o assunto, desta vez com a inédita confissão de um torturador.

A tortura causa um desgaste muito grande. Nunca me neguei a torturar alguém, mas só fazia quando havia necessidade. Mas a brincadeirinha não tem a menor graça, viu?
Marcelo Paixão de Araújo, ex-tenente (9/12/1998)

Na primeira metade dos anos 1970, o milagre econômico do governo militar exibia resultados, traduzidos em grandes obras de infra-estrutura, como estradas, hidrelétricas e redes de comunicação. Essa era a face benigna do regime. A maligna começaria a de desintegrar em 1978, com o fim mais do que tardio do AI-5. No mesmo ano, uma sentença que declarou a responsabilidade da União no caso do jornalista Vladimir Herzog - preso, torturado e morto nas dependências do DOI-CODI paulista -, colocou o Brasil no degrau das nações civilizadas, onde a administração pública responde pelos atos de seus agentes.

A decisão do juiz reabre uma participação real da Justiça na vida do país, como poder independente.
Raymundo Faoro, da OAB, no caso Herzog (1/11/1988)


A partir de 1979, a anistia foi o tema que dominou os debates. VEJA acompanhou a decisão do presidente Figueiredo desde o nascedouro até a conclusão do projeto de lei. Naquele ano, o general concedeu à revista a primeira entrevista exclusiva formal a um órgão de imprensa desde o golpe militar de 1964. O presidente que assinou a anistia e permitiu a transição para o poder civil foi o militar que mais vezes apareceu na capa de VEJA.


(...)Golbery, de olhos postos no futuro e sobretudo na sucessão presidencial, não parece interessado em discutir suas decisivas passagens pelo poder nos últimos vinte anos. Medici também acompanha com atenção os movimentos na ribalta, mas revela a preocupação de fazer a defesa de seu governo. (...)
"O momento de falar", 16/5/1984


Quando a campanha pelas eleições diretas evidenciava o ocaso do regime, a revista conseguiu também entrevistas históricas com dois personagens fundamentais da história do Brasil: Golbery do Couto e Silva e Emílio Médici, que quebraram o silêncio para uma edição de maio de 1984.


FONTE: http://veja.abril.com.br/

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