sábado, 30 de janeiro de 2010

Censura e juventude, por Maria Aparecida de Aquino


Professora da USP diz que jovens de hoje não têm ideário romântico, mas sabem se engajar

SÃO PAULO - A seção Autógrafo, do Estadão.edu, convida um estudante de graduação para fazer uma pergunta a algum profissional ou professor que ele admira. Dessa vez, o tema em discussão é censura. Agripino Costa, de 20 anos, aluno do 2º ano de História da USP é quem pergunta à professora Maria Aparecida de Aquino, professora de História da USP e pesquisadora sobre ditadura e censura na imprensa.

Tendo em vista a história recente do País, como a sra. acha que os jovens de hoje reagiriam a uma onda de censura como a da época da ditadura?

“Para pensar sobre esse tema, que envolve uma questão de gerações, é interessante ver como muita gente exibe hoje uma perplexidade, por exemplo, com a luta armada no Araguaia. Muitos jovens se perguntam: ‘Como é que aquele pessoal chegou a achar que poderia ter sucesso?’ Pessoas não versadas na História dizem que eles eram doidos. Mas só podemos entendê-los com a cabeça dos anos 60, que é muito diferente de hoje.

Atualmente, o jovem não tem essa expectativa de revolução. Isso definitivamente não faz parte do seu ideário. Talvez porque não seja necessário. E eles são diferentes porque têm de ser. Afinal, estão comprometidos com a realidade que os cerca. Hoje não há um regime para você brigar contra. Temos alguns episódios de censura, como a sofrida pelo Estado. Isso deve ser discutido seriamente, mas é um caso isolado. A censura que se abateu no Brasil era generalizada.

O jovem atual não tem aquele ideário romântico e revolucionário dos anos 60. Mas me surpreendi com a atitude deles em uma experiência na USP, entre 2000 e 2002. Os alunos lideraram um movimento de greve, a favor de contratações na universidade. Antes das reuniões, eles faziam um sorteio para escolher quem comandaria a mesa.

Foi maravilhoso, eu imaginei que nunca mais poderia ver algo como aquilo. Então, precisamos pensar que eles se engajam de uma maneira diferente, com tudo aquilo que a diferença possa ter de positivo ou negativo. E eles também se manifestam. Para mim, esse aparente descompromisso é só aparente.”

FONTE: www.estadao.com.br

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