segunda-feira, 23 de agosto de 2010

“Página não encontrada”

“Página não encontrada”, em inglês “Page not found”, é uma mensagem de erro bem conhecida do comum dos internautas, que aparece frequentemente quando se faz uma pesquisa na Web. Porém, e sem que o saibamos, muitas das vezes não há erro algum. De facto, por detrás do "erro 404", assim chamado em linguagem de computador, esconde-se recorrentemente uma página censurada, cujo acesso foi vedado.

O controlo da Internet tem crescido nos últimos anos e são já muitos os países em que o poder político restringe ou impede o acesso a páginas consideradas indesejáveis ou perigosas, desde a China ao Reino Unido, da Alemanha aos Estados Unidos. As razões invocadas pelos Estados censórios são, em regra, da esfera da política, da segurança, da conveniência social, da protecção da autoria…

Medidas deste tipo vão desde o condicionamento da informação a que se pode ter acesso em locais como escolas, bibliotecas e espaços públicos até ao impedimento de qualquer forma de acesso à Rede.

E há também o geoblocking que restringe o uso de conteúdos da Internet a países específicos, impedindo o acesso nos restantes; “este vídeo não está disponível no seu país” é uma mensagem reveladora da presença do geoblocking, comum em sites tão procurados como o popular Youtube.

Não obstante os discursos politicamente correctos que se vão ouvindo, por esse mundo fora, a políticos e decisores, em favor da importância da Web para a saúde das democracias, para a edução/aprendizagem e, sobretudo, para a cidadania, parecemos caminhar a passos largos para a Era da Censura, que assim tomará o lugar da “Era da Informação” que o sociólogo Manuel Castells analisou aprofundadamente. Para mais porque estas restrições por parte dos Estados crescem, de forma ainda mais demolidora, no universo das empresas.

A Era da Censura impor-se-á a menos que se dê a volta à situação. E há já um sinal positivo, uma ferramenta para derrubar este vergonhoso muro que vai sendo erguido pelos Estados contra o interesse das Nações. Trata-se do “Collage”, uma ferramenta desenvolvida por investigadores do Georgia Institute of Technology, dos Estados Unidos, que permite aos utilizadores enviar mensagens cifradas, utilizando sítios como o Flicr, o Twitter ou o Youtube. Portanto, nasce uma nova esperança para a liberdade na Web.

Uma última palavra para lembrar que na próxima sexta-feira, dia 27, encerra a 77ª sessão do Comité Para a Eliminação da Discriminação Racial, das Nações Unidas, desta vez realizada em Genebra. São 173 os Estados que subscrevem a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, desde que, em 1965, a Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu adoptar as “medidas necessárias para eliminar rapidamente a discriminação racial em todas as suas formas e manifestações e combater as doutrinas e práticas racistas”, com o objectivo de construir uma “comunidade internacional livre (…) de segregação e discriminação racial”.

Paradoxalmente, é neste quadro que a França expulsa do seu território, por decisão do presidente Sarkozy, dezenas de famílias ciganas. Fá-lo com o beneplácito da Comissão Europeia que entende a expulsão de ciganos acampados ilegalmente em França, como da exclusiva competência do Estado francês.

É certo que Igreja Católica critica fortemente a medida e um cardeal francês, André Vingt-Trois, lembra que o medo dos outros contradiz a mensagem evangélica e o que deve ser a mensagem de uma "sociedade civilizada”. Porém, numa atitude de clara xenofobia, 79% dos franceses apoiam Sarkozy, que vê assim subir a sua popularidade; isto num país cujo artigo primeiro da Constituição da República assegura “a igualdade perante a lei de todos os cidadãos sem distinção de origem, raça ou religião”. Como se vê, longe vão os ideais da revolução francesa.

O pior é que, lamentavelmente, os atentados à liberdade não se esgotam no universo da Web.

FONTE: http://www.setubalnarede.pt

Nenhum comentário:

Postar um comentário