segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Vice critica ações anti-imprensa de Cristina Kirchner

10/11/2009

SILVANA ARANTES
da Folha de S. Paulo, em Buenos Aires

O vice-presidente da Argentina, Julio Cobos, criticou nesta segunda-feira em Buenos Aires a Lei de Serviços Audiovisuais que a presidente do país, Cristina Kirchner, conseguiu aprovar no mês passado.

A lei regula os mercados de rádio e TV e tem como meta "desmonopolizar o setor", segundo Cristina, impondo limites à propriedade de canais e à parcela na audiência.

"O processo de construção de uma lei deve realizar-se em benefício de todos, não em prejuízo de alguns", disse Cobos, durante o ato de instalação da 65ª Assembleia da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa). Convidada para a solenidade, Cristina declinou.

A nova lei lesa especialmente o Grupo Clarín, maior conglomerado de mídia argentino, que está em conflito com o governo desde 2008. Segundo os limites fixados pela lei, o Clarín terá que reduzir seus negócios no mercado de TV.

Cobos disse que a lei "deverá ser aperfeiçoada no futuro, porque, na democracia, tudo é aperfeiçoável". Num contexto em que se atribui a Cristina a intenção de cercear a imprensa, Cobos afirmou que "nenhum ato de censura tem lugar num governo democrático".

O vice-presidente se opôs ao bloqueio parcial da distribuição dos jornais "Clarín" e "La Nación", promovido na semana passada pelo sindicato dos caminhoneiros, vinculado à central sindical CGT (Confederação Geral do Trabalho), alinhada ao kirchnerismo.

O sindicato usou a medida de força em meio a negociações para a filiação dos empregados de distribuição de jornais e revistas. "É um fato lamentável, que deve ser condenado", disse o vice-presidente.

Cobos, que almeja ser candidato a presidente nas eleições de 2011, criticou indiretamente a atitude refratária de Cristina em relação à imprensa. "Comunicação consiste em compartilhar com os outros ideias, informações, opiniões", disse.

Para o presidente da SIP, Enrique Santos Calderón, "a Argentina enfrenta sérias ameaças" à liberdade de imprensa. Calderón disse que a Lei de Serviços Audiovisuais "se intromete nos conteúdos e critérios editoriais", estabelece "privilégios para velhos e novos atores" e se configura como "um instrumento para asfixiar vozes".

O presidente da SIP lamentou "que a presidente não tenha vindo falar de suas inquietações e ouvir as nossas".

O diretor do "La Nación", Bartolomé Mitre, disse que "não é preciso ser extremamente sagaz para notar que há um plano orquestrado [por Cristina] para controlar toda a imprensa". O editor-geral do "Clarín", Ricardo Kirschbaum, afirmou que a imprensa "está sujeita a um clima de ameaças e intimidação" no país. Mitre se disse "confiante" na superação dessa etapa. "O que não sei é quanto tempo vai levar e que dano isso tudo produzirá à Argentina."

FONTE: www.folha.uol.com.br

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